14 de junho de 2013

Carta de um policial nos protestos de São Paulo

Ser policial e andar com uma lupa de análise política no bolso quase sempre é trágico. Leva-nos a conflitos internos, terremotos morais, furacões éticos. Sim: estou falando da atuação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, digo, estou falando da minha atuação nos protestos em favor da redução das tarifas de transporte público em São Paulo.
No front, companheiros, sabemos todos nós policiais (caso este texto seja publicado), no front não há raciocínio. “A determinação é desocupar a Avenida”. Um sentimento de dever nos une, e a determinação será cumprida. Deve ser cumprida. Por nós, que pegamos ônibus e metrô, e somos pouquíssimos partidários dos governos: são eles, afinal, que nos submetem a condições de trabalho questionáveis, que nos pagam salários inadequados com a natureza da função que exercemos, que incita a polícia a agir, mas que degola o primeiro que parecer abusivo à opinião pública. Afinal, soldado morto, farda noutro.
Vi baderneiros e atos descontrolados de manifestantes: danos desnecessários, resistências à ação policial, incitação à violência. Cá para nós, coisa natural em protestos e manifestações contra os governos. Diferentemente de tropas militares, manifestantes civis em reivindicações não possuem controle central, determinação uniformizada de ordens. Diferentemente da polícia, que quando é violenta com certeza acata a um interesse específico, a população em protesto pode tender à irresponsabilidade de uns poucos. E isto não deslegitima a causa.
Vi policiais assumindo a lógica “nós contra eles”, como se na guerra estivessem, vi colegas ingenuamente assumindo-se engrenagem de uma máquina que está longe de ter como fim “a manutenção da ordem pública”. Vi o despendimento de uma estrutura militar significativa para calar a voz de cidadãos, para evitar sua permanência no espaço público, para negar a insatisfação que, lá em nosso âmago, faz parte de cada policial militar (salvo alguns que, certamente, estão bem privilegiados nos altos escalões de poder).
Cumprimos ordens, é verdade, mas elas pelo menos devem ser investigadas quanto às suas naturezas, quanto ao que representam politicamente, quanto a seus desdobramentos sociais. Ouço colegas dizerem que, “se os baderneiros são violentos, não podemos nos omitir, a repressão deve ocorrer, a violência tem que ser devolvida”. Obviamente, permitir-se apanhar é absurdo: tão absurdo que não sei se alguém acha mesmo que pedir respeito à manifestação popular significa pedir para apanhar. Mas a violência institucional policial, que, repito, é organizada e obedece a um comando central, é uma contradição do ponto de vista dos fins da própria instituição, que está sustentada (a princípio) na produção da paz.
Policiais são profissionais, têm deveres, modo de atuação especificado, direitos a garantir, deveres a fazer cumprir. A sociedade, neste momento se reconhecendo enquanto corpo político reivindicatório, tem um elemento que vez ou outra surge, sempre incomodando bastante quem quer as coisas do modo que elas estão: ideal, coragem política e insatisfação coletiva. Como deveria ser a relação entre esses dois setores da mesma sociedade?
Sou a favor do que defendem os manifestantes. Sou a favor da ação policial que evite ações violentas de manifestantes. Sou a favor de ações policiais não violentas. Sou a favor que cada policial militar paulista reflita sobre o que representa seu bastão erguido, seu espargidor acionado, seu tiro de borracha disparado. Trabalhamos para sobreviver, sem nossa profissão, não sustentaríamos nossas famílias, mas não é pequeno o conflito existencial de quem percebe que está jogando, porque é obrigado a jogar, o jogo de uns poucos, encerrados em seus gabinetes, presos afetiva e ambiciosamente à cadeira do poder. Lamento, tristeza e vergonha.
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3 comentários:

Anônimo disse...

Na verdade, devemos separar o joio do trigo. Muitos PM's, acham que todos que estão fazendo manifestação, são vândalos. Agem de forma truculenta e arrogante. Quando um de nós comete um pequeno deslize, pois somos falíveis, vem o CMT, CDH e Estado nos colocando "abaixo de zero". Quando adoecemos, não vai um representante do Estado nos visitar. Se a gente troca tiro com marginal, podemos nos preparar porque a situação vai ficar "feia". Dentro da própria instituição há diferença no tratamento. Oficial se acha melhor que praça, sargento se acha melhor que cabo, etc. Às vezes passo fardado perto de um colega de profissão, o cumprimento, mas não sou cumprimentado. Sou do tipo que não faço distinção. Cumprimento policial civil, agente penitenciário e guarda municipal. Estamos todos no mesmo barco! Tem PM que é tão vibrador, tão "pau mandado" que se puder, prende a própria sombra! Acho que devemos combater bandidos e não profissionais do Sistema de Defesa Social e cidadão de bem! Há alguns PM's que gostam de abusar da paciência dos profissionais do Sistema Prisional e de Guarda Municipal. Quando abordam um destes servidores armados então, fazem aquele alarde como se fossem marginais de alta periculosidade. Bom que os magistrados já entendem que estes servidores têm o direito de portar arma, mesmo que fora de serviço. Enquanto estamos em nossas ocorrências e rondas, os agentes estão lá fazendo a vigilância das unidades prisionais e escoltas dos vagabundos que a gente prende. Fazem a segurança enquanto a população ordeira trabalha ou dorme! Este episódio de São Paulo foi muito triste, pois policiais do mesmo nível de renda dos manifestantes que estavam buscando seus direitos, agiram com força exagerada! Ou seja, pobre batendo em pobre, enquanto a elite e o Estado assistiam àquela situação de camarote rindo de nós! Temos que mudar nossa mentalidade sem nos furtar do nosso compromisso! Agir com inteligência! Desejo que minha mensagem seja postada.

Anônimo disse...

se não haver atos que chamam a atenção, atos que sejam fortes... essas manifestações não ganhará respeito, e os manifestantes serão vistos apenas como mais um bando de idiotas com cartaz nas mãos, mudos e quietos... manifestações assim, tem que existir em busca de melhorias, para a polução em geral, até mesmo para melhorias dos proventos dos senhores!

os fins justificam os meios, ou vice e versa!

Marcelo dos Santos Prado disse...

Bom Dia.
Quando ingressamos na instituição, queremos servir, mas também termos a nossa vida.
Esse militarismo enviesado e anacrônico da PM e Bombeiro de Minas tem trazido mutos problemas a nós, praças e homens formadores de opnião.
Sempre existe o argumento de que " a sociedade confia em nós" e por isso, é praticado com rigor e monocracia as puniçõesem que ferem muitas vezez, os direitos humanos.
Eu fui demitido injustamente, acusado do crime de deserção. Em 2006, eu havia perdido a minha mãe e entrei em depressão; o comandante da época já me perseguia pelo seu excesso de plotícia e me transferiu, 3 meses depois para nova serrana.
Trabalhei lá, quase 6 meses, acreditando que eu poderia superar tudo isto, mas devido ao stress e a tristeza, associada a pressãoe perseguição de alguns colegas que lá estavam ( apenas 5 voluntários foram para lá, os que já eram da região Centro-oeste de MG ), tive síndrome do pânico e solicitei um afastamento médico.
A JCS da PMMG não quis homologar meu atestado e só depois de quse 20 dias, é que a admnistração do bombeiro de divinopolis veio me pressionar, via telefone, que iria confeccionar o termo de deserção.
Como a adminstração do BM se mostrou ineficaz em seguir o figuro de instaurar uma procedimento admnistrativo para comprovar a minha necessidade de afastamento, requeri, com advogado devidamente constituido, mandado de segurança para o meu afastamento, até que se julgasse o mérito.
O juiz concedeu a liminar e depois de um tempo, veio a cassá-la; retornei ao trabalho, fiquei quase um ano em nova serrana e depois de ter sofrido muita retaliação, requeri minha transferência de volta para Uberlândia.
Em 2010, o cmt do 10 bbm sob ordem do cob, confeccionou o termo de deserção; em 2010, o tjmmg acolheu a denuncia;
em 2010, instauraram o pad e durante esse período, o oficial presidente da comissão me constrangeu diversas vezes, determinando que eu confessasse a deserção, inquirisse as testemunhas, disse que se eu não fizesse, iria responder por rivelia e tudo mais.
Para resumir, o PAD prescreveu, a justiça militar me absolveu por insuficiencia de provas e ainda assim, o cmt geral do bombeiro me demitiu e a advocacia geral do Estado corroborou o relatório do mesmo.
Estou buscando reverter essa injustiça e incoerência diante da justiça militar, para reitegrar, pois estou sem recursos e meu pagamento de junho foi bloqueado, alegando ser o acerto rescisório.
Sou paciente psiquiátrico, sofro de depressão e síndrome do pânico, mas a jcs disse que eu poderia exercer atividade administrativas, pois não sofria de alienação mental.
Eu nunca disse que sofro de deficiência mental, mas sempre defendi que a depressão é uma doença grave e o Estado de direito pode proporcionar ao paciente a sua melhora e direcioná-lo ao bom e fiel cumprimento do dever, de acordo com sua capacidade laborativa.
Peço, aqui, publicamente, diante do Senhor Deputado Estadual Cabo Julio, divulgar estes fatos diante da Comissão de Direitos Humanos, que fui penalizado com a sanção máxima por algo que eu não cometi. Fui perseguido por todos esses anos e vocês sabem que tem gente que finge de bobo quando estão desrepeitando nossos direitos.
Obrigado a todos pelo espaço e estou nesta luta com vocês!
QUE DEUS NOS ABENÇOE!!!
Marcelo